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Image by Daniela

A menina mágica

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A música invadiu o salão de festas, as pessoas dançavam animadamente, o ritmo da música levava todos a uma coreografia coletiva, parecia um filme de musical...no canto mais escuro da festa estava ela, Arabela, a menina mágica, ela era um fenômeno, ela era diferente de todos, causava admiração e medo...você deve estar começando a ficar curioso sobre o que essa menina faz, fique tranquilo eu vou explicar, afinal esta é a minha função, contar os fatos dessa intrigante história, e claro que para você entender vamos ao começo de tudo...nascida em uma família pobre do interior das Alagoas, ela sempre teve dificuldades para tudo na vida, viver era um desafio...pouca comida, pouca atenção, pouco amor; era franzina e cansada, não tinha muita vontade de viver, levava a vida no automático. Certo dia a mãe dela chegou em casa com um pacote estranho, a cara de espantada da mãe levou Arabela a ficar curiosa sobre o pacote suspeito, a menina se animou, achou uma razão para viver, descobrir o que tinha naquele tão atrativo, a menina esperou todos dormirem e partiu para a missão de descobrir tudo sobre o embrulho suspeito...na ponta dos pés saiu do quarto, atravessou a sala e foi até a cozinha onde estava guardado o pacote, entrou na dispensa e começou a abrir, calmamente, o embrulho, folha por folha até chegar a um último embrulho...inacreditável, inimaginável, indescritível...você deve estar curioso pra saber o que é que se encontra no embrulho, mas antes vou explicar como a mãe de Arabela conseguiu esse pacote...Dona Suzi estava voltando da feira quando um embrulho em cima de uma árvore, ela ignorou e continuou caminhado, entra na rua 4, passou pela rua 37, desceu pela avenida central e quando entrou na rua 27 lá estava de novo o mesmo pacote, como assim? Pensou ela...dessa vez o pacote estava na calçada, dona Suzi pensou, analisou e mesmo desconfiada pegou o papel e partiu, não abriu, não cheirou, nem sequer olhou para o pacote, carregou de forma automática, chegou em casa e colocou na dispensa da cozinha...e aqui voltamos nós para a cena de Arabela com o último pacote na mão...ela abriu devagar e encontrou 4 esferas brilhantes: uma verde, uma azul, uma amarela e uma vermelha...a menina mexeu nas esferas e as mesmas começaram a brilhar, a luz das esferas subiu até o teto e acabou criando um rosto de um velho barbudo e magro... o velho começou a falar para Arabela que ela foi escolhida para dar continuidade a uma dinastia de magos encantadores, cada esfera daquela significava um poder mágico que ela passaria a ter, ele explicou a esfera verde era o poder da supervisão, a azul o poder de aparecer e desaparecer em qualquer lugar, a amarela a capacidade de ler pensamentos e a vermelha dava-lhe o poder de acabar com as injustiças, porém só duas por dia...Arabela ouviu atentamente todas as instruções, por fim o velho disse que ela não poderia contar a ninguém, pois se fizesse isso perderia os poderes mágicos... que história mais maluca, pensou ela, mas disse que guardaria o segredo...agora vamos voltar a cena do baile...ela estava cansada de guardar o segredo, até então não havia usado os poderes que tinha então ela pensou: “vou revelar tudo a todos, esses poderes não me servem para nada, pois eu não sei o que fazer com eles, ouvir fuxicos, olhar a vida alheia, cortar caminho para escola...pois...ela não sabia nem o que era injustiça, pobre menina...a decisão já estava tomada, iria revelar a todos os seus poderes, com sua habilidade de aparecer e desaparecer foi até o DJ...desligou a música...pegou o microfone, pediu a atenção de todos, e falou o seu segredo...silêncio no salão, todos ficaram parados olhando para ela...Cleyton, o menino mais popular da escola aproximou-se dela, pediu o microfone e disse: “ valeu Arabela, gostamos muito da sua performance, uma história realmente fascinante, mas, na moral, não atrapalhe o baile”...todos riram e aplaudiram...o som voltou a tocar e Arabela sumiu dali imediatamente, usou o poder que tinha pela última vez...ninguém nunca mais viu a menina. A rua estava meio escura, uma senhora desce a ladeira com um balde na mão, de repente essa senhora para...se abaixa e pega um embrulho estranho na mão... (Dicson Soares dos Prazeres- contos públicos para escolas públicas)

 

Image by Daniela

A menina que tinha alergia a estudar

 

A casa era simples, a família humilde e muito honrada, uma casa comandada por uma chefa de família, o pai tinha acabado de abandonar o núcleo familiar para seguir um destino que a vida apresentara, era quase sempre assim naquele pedaço de chão esquecido pelas autoridades, pessoas que tentavam sobreviver em condições de vida enfaticamente adversas. Laura era a filha mais nova daquela família periférica, estava com 11 anos e cursava o 7ºano de uma escola pública, vida normal e comum dos bairros populares. Ia para a escola pela manhã para cumprir o protocolo e voltava para casa pensando na tarde de brincadeiras na sua singela rua de casas com tijolos aparentes. Correr, pular, cantar, dançar, brigar, saltar, discutir, falar muito, entender as regras, sobreviver.

Amanhece mais um dia no lar de Laura, a mãe já está saindo para ajeitar a casa de uma senhora rica que mora no lado bom da cidade, trabalhar não era uma escolha, era uma necessidade imediata, afinal de contas aquela mulher precisava sustentar a casa. Após um raquítico café da manhã, Laura foi se arrumar e caminhar por quinze minutos até a escola. Tudo corria bem naquela manhã até que aconteceu pela primeira vez algo muito estranho, em um momento da aula a professora liberou os alunos para irem à biblioteca estudarem para a prova de História que iria ocorrer no último horário. Sentada em uma mesa reservada no canto, próximo aos manuais de História geral, ela começou a sentir um incômodo nos braços, uma coceira irritante, após alguns minutos estudando ela não aguentou e pediu permissão para ir ao banheiro; no caminho todos olhavam admirados para Lala, era assim que a chamavam na escola. Em frente ao espelho do banheiro, atônita, Laura constatou que seus braços e orelhas estavam tomadas por um vermelho rubro destacável. Gritar, pular, pedir ajuda foi o que ela pensou em fazer naquele momento, porém respirou fundo e fechou os olhos, começou a pensar no que havia comido naquela manhã, analisou e percebeu que nada fora diferente dos dias anteriores: pão, café, margarina; nada fora da dieta social na qual estava inserida. De repente começam a entrar no banheiro várias alunas oriundas da liberação para o recreio, Laura corre para um banheiro reservado e começa a chorar baixinho, pensamentos mil na cabecinha da menina: “meu Deus, o que está acontecendo?” De repente batem na porta do banheiro, era Cris, a melhor amiga de Laura. “Menina o que você está fazendo aí, vamos lanchar, já estão servindo no refeitório, hoje, pra variar, vai ser broa com suco de caju.” Laura deu um pulo e disse: “ Cris, mulher, estou passando mal, meu corpo está todo vermelho, e está uma coceira da poxa.” “ Saia daí, venha aqui, vou te ajudar”, respondeu Cris.

Com o corpo empolado Laura foi do banheiro até a direção, os coordenadores ficaram agoniados com a cena, levaram a garota para o posto de saúde em frente à escola, ela foi medicada e encaminhada para casa, lá, a sofrida aluna teve os cuidados da tia Sandra e passou o resto do dia descansando. No começo da noite, com a chegada da mãe, o fato foi relatado, a mãe ouviu atentamente e buscou na memória possíveis indícios que explicassem aquele episódio, nada veio a sua mente, enfim, relaxou, uma vez que a menina estava melhor e ela muito cansada em função dia intenso de trabalho braçal. No outro dia pela manhã, Laura resolveu ficar em casa, queria descansar um pouco mais, resolveu colocar os estudos das matérias em dia, sentou-se na mesa e começou a maratona, anotações, pensamentos, conjecturas, coceira, coceira, coceira? Subitamente caiu na real, a coceira e a vermelhidão voltaram!, “estou mal, meu Deus o que está acontecendo?”, foi até a casa da vizinha, (C1)retornou ao posto de saúde, o médico a atendeu e, de imediato, a reconheceu, com um semblante intrigado, resolveu perguntar: “Você esteve aqui ontem, não foi?”. “Lembrei que você estava aí na escola e passou mal, você comeu algo que também comeu ontem?”. “Alergia ao remédio não é, porque você tomou ontem de manhã e o efeito, caso o remédio fosse a causa, não iria repercutir apenas hoje, estranho, muito estranho...”. Ela foi medicada e voltou para repousar em casa, uma manhã de sono, o antialérgico sempre promove o seu efeito sonífero. Deitada na cama começou a imaginar várias coisas, ela estava ali deitada para relaxar depois de mais um susto. Começou a assistir sua série preferida da Netflix, trama que conta a história de uma médica jovem que trabalha em um grande hospital americano, nesta série Laura descobria diariamente as mais variadas doenças e reações do corpo humano, era um aprendizado contínuo; sofá, TV, TV e sofá,  e o dia foi embora suavemente.

Amanhece mais um dia no periférico bairro da capital que insistia em crescer, Laura começou a se arrumar para retornar à escola depois de um dia de descanso, ao sair na porta da rua encontrou com Cris, que morava na rua de baixo, e sempre passava no mesmo horário todas as manhãs, caminharam rápido, não queriam se atrasar, eram alunas aplicadas, sentar na frente era uma meta diária. Segue normal a manhã na escola estadual, Laura presta atenção na aula de história do Brasil, ouve atentamente, anota as curiosidades, pensou...”Dom Pedro namorador” riu sozinha e seguiu compenetrada. Laura ficou sabendo que só haveria aula até o terceiro horário, pois a professora de ciências havia ficado doente, não viria para a escola, pensou e resolveu ficar na biblioteca para estudar um pouco a matéria da semana passada, até porque na semana seguinte começam as provas da primeira unidade. A biblioteca estava vazia, a maioria dos alunos estavam em classe ou já haviam ido embora, Laura estava tranquila pra estudar até umas horas, analisou, pensou, anotou, coçou, copiou, leu, coçou; de súbito percebe, fica desesperada, de novo não, a alergia voltou e agora mais forte ainda, dessa vez até os olhos incharam, levaram-na rapidamente para o posto de saúde mais uma vez, era a terceira vez nos últimos dias, ela não estava acreditando, estava desesperada, como podia estar acontecendo isso com ela? Pensou a guria. O mesmo médico a atendeu e dessa vez a encaminhou para o hospital, precisava de exames mais aprofundados, aquela repetição da alergia já estava demais, era necessária uma atenção maior.

Na chegada ao hospital, Laura já estava passando muito mal, havia um risco de morte naquele momento, pois a sua glote podia fechar e aí já era, pensou Laura, imaginando com base na série que assistia diariamente, na verdade, ela chegou andando acompanhada da coordenadora Mariele, essa coordenadora era um amor de pessoa, fazia de tudo pelos alunos, o pessoal da escola já havia ligado para a mãe de Laura. Começam os exames: tomografia geral, coleta de sangue, ressonâncias mil, medicação para atenuar a alergia, três médicos acompanhavam o caso, um neurologista, um alergista e um pediatra, precisavam investigar aquele caso intrigante, na entrevistas com os médicos foram feitas várias perguntas sobre os momentos anteriores aos ataques alérgicos, a junta descartou infecção alimentar, pois não havia relação com as comidas e produtos ingeridos, partiram para algum mal funcionamento de órgãos, ou quem sabe algum tumor cerebral que estava desencadeando os sintomas, era uma angústia perene. A mãe de Laura chega ao hospital esbaforida e preocupada, os médicos conversam com ela e a acalmam, segundo eles os exames iriam apontar algo, era só esperar, as respostas viriam.

Depois de uma grande reunião a junta médica chamou a mãe de Laura e os demais acompanhantes para o comunicado oficial, finalmente eles teriam um possível diagnóstico, só precisavam de mais um exame para confirmar o raríssimo diagnóstico. Lá foram todos, inclusive Laura para o tão esperado exame crucial. Na sala havia, além do aparelho de tomografia, uns livros escolares, o doutor pediu que ela fizesse a leitura do capítulo 3 do livro de geografia e que em seguida ele iria fazer umas perguntas e ela teria que acertar, as perguntas funcionariam como uma prova oral do assunto em questão, Laura e os demais leigos não entenderam nada, mas fizeram o que pediam os médicos. A menina achou estranho deitar em uma máquina e estudar uma matéria, a mãe queria saber o que ia acontecer, estalava os dedos nervosamente, tensão no ar, o que será que tinha aquela menina, ninguém falava nada, apenas observavam. Depois da leitura, Laura recebeu um caderno para anotações, afinal de contas ela seria avaliada. Laura anotou, pensou, analisou, coçou, relembrou, anotou novamente, coçou, revisitou o livro; não percebeu, de repente, um susto, ela estava novamente, totalmente vermelha e empolada, os olhos ardiam e coçavam. Tudo de novo! E agora? De súbito os médicos invadiram a sala, medicaram a menina e chegaram a uma estranha conclusão.

Sentados ao lado da cama de Laura os parentes esperavam apreensivos a fala do médico sobre o caso da menina. O doutor pediu a atenção e pediu que o residente fizesse a leitura do diagnóstico, a nossa querida Laura está com um tumor benigno no córtex pré-frontal, não corre risco de morrer, ela terá duas opções de tratamento: uma com remédios fortes e efeitos colaterais, a outra é uma operação para retirada do mesmo, a operação é simples e rápida, porém a recuperação é complicada e enfadonha. Todos na sala ficaram aterrorizados, “como assim?” Pergunta a mãe de Laura. O doutor explica: “o córtex pré-frontal é responsável pelo uso do raciocínio e conjecturas de pensamentos, por isso quando Laura começa a estudar o seu corpo reage alergicamente”, é isso mesmo, Laura, por conta do tumor, tem alergia a estudar, o corpo da mesma reage quando esta parte do cérebro é acionada, em todos os episódios que ela tentou estudar a reação foi a mesma, muita gente no lugar dela ia achar bom não ter que estudar, porém para Laura estudar era coisa séria, ela estava disposta a enfrentar o tratamento ou a operação, não desistiria dos estudos. A família, junto com Laura, escolheu a operação, ela foi operada e se recuperou bem, a menina voltou para escola, voltou a estudar, formou-se em medicina, trabalhou nas pesquisas sobre funcionamento cerebral, virou uma neurocirurgiã, teve três filhos e hoje dá palestras em escolas públicas sobre a necessidade do uso do cérebro para estudar, como em uma ginástica cerebral, ela também fala um pouco da vida dela, das lutas e da experiência que passou com a cirurgia na cabeça, incentiva os alunos das escolas periféricas por onde passa a estudarem todo dia, ela fala da necessidade de estudar para a vida melhorar, e também lembra que se ela não tivesse o hábito de estudar jamais detectariam o tumor na cabeça dela e provavelmente estaria morta. Casei-me com ela, e sempre quis escrever essa história intrigante que aconteceu na vida real da nossa cidade, narrativa que mais parece um conto fantástico de outros tempos, mas é real, eu garanto que essa história aconteceu, tanto é que Laura está aqui ao meu lado, ajudando-me a contar com detalhes o incrível caso real da menina que tinha alergia a estudar.

(Dicson Soares dos Prazeres)

 

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O mistério do parquinho

 

Um bairro comum da capital é o cenário da nossa curiosa história, nesse lugar as pessoas têm poucas condições financeiras, vivem a vida no limite de quase tudo, mas não desistem, vive-se da forma que dá, eu digo isso porque é aqui que vivo. Certo dia percebemos uma movimentação no terreno baldio em frente à rua 23, caminhões, máquinas, homens de capacete, vários homens vestidos em fardas padronizadas de cores chamativas, o que seria que ia acontecer ali? Algumas semanas depois surgiu uma praça bem bonitinha, colorida, arborizada, isso, eles trouxeram árvores e plantaram ali, era algo que destoava um pouco das nossas casas improvisadas. Juntamos a galera e fomos até a nova praça, ao chegarmos lá para aproveitarmos notamos algo diferente, havia uns brinquedos, tipo: balanço, carrossel, vários escorregadores, uma pequena quadra de três na linha, traves alinhadas... um sonho...porém havia um cercado e dois homens(seguranças) tomando conta, eles diziam: “não pode usar essa parte, tão vendo ainda quando libera”; tá certo, vou ver até quando minha curiosidade e teimosia aguenta.

No fim de tarde reuni a galera e combinei de irmos à noite descobrir o que havia de tão diferente naquele play que impedia a nossa diversão, estávamos babando para usar aquele pedaço do paraíso. A galera marcou de se encontras após o café, iríamos explorar o play misterioso. Quando chegamos lá já eram 9 horas da noite, os seguranças tinham ido embora, dividimos a turma: uns ficaram na entrada, para avisar sobre a aproximação de alguém, outros entraram, claro que eu estava no segundo grupo. Percebemos que no fundo da quadra havia uns materiais cobertos por algumas lonas pretas, levantamos e para nossa surpresa encontramos várias bicicletas, eram bicicletas diferentes, não tinham a rodas da dianteira, nas laterais do quadro cada uma delas tinha asas que lembravam as de pequenos aviões, em outra lona encontramos uma espécie de armário e vários livros grossos ao lado deste móvel, pensamos um pouco e decidimos abrir a porta do armário, quando conseguimos abrir a surpresa foi total; uma luz branca e forte veio de dentro do armário, ficamos cegos por alguns segundos, de repente uma força nos puxou para dentro do armário, a gritaria foi total, caímos numa espécie de buraco, um tobogã...quando conseguimos ver, percebemos que estávamos em um outro lugar, era outra cidade, era tudo muito diferente, as pessoas usavam roupas de plástico e máscaras transparentes, ficamos, totalmente admirados, olhávamos uns para os outros sem saber o que fazer. De repente uma menina magra e de cabelo loiro chegou perto de nós e disse: “paguem os impostos daqui!” Nós não entendemos nada, então eu perguntei para ela que lugar era aquele, porque estavam com aquelas máscaras e roupas estranhas, ela sorriu e disse: “vocês é que usam roupas estranhas.” Ela prosseguiu; “aqui em Plastos, nós utilizamos roupas recicláveis, preservamos o nosso mundo, diferente de vocês que produzem toneladas de lixo, derrubam árvores, poluem os rios”. Fiquei pensando no que ela falou a dei razão para ela, então ela nos convidou para mostrar o mundo dele; lá todos usavam bicicletas voadoras, essa bikes eram carregadas em tomadas espalhadas por todos os lugares, não havia mercearias, padarias, muito menos shoppings, Tana(era o nome da garota) explicou que eles mesmos plantavam, colhiam e produziam a própria comida, eu disse a ela que no nosso mundo também haviam pessoas que produziam a própria comida, mas eram poucas; para nossa surpresa ela disse que conhecia nosso planeta, falou que éramos usados nas escolas de lá como um mal exemplo de mundo, disse que nós fazíamos tudo errado e que os moradores de Plastos tinha pavor do nosso mundo, Kaká, que era o mais estudioso de nós, falou com Tana sobre projetos de reciclagem que havia no nosso mundo, ele explicou que haviam pessoas que tentavam preservar o planeta, porém eram a exceção e não a regra; Tana riu, e disse que depois explicaria o riso. Perguntei para ela como nós fomos parar ali, e como iríamos fazer para voltar para casa, ela explicou que existe um portal de estágio que ligava os dois mundos, as crianças de Plastos quando cursavam o setis ano, era como eles chamavam o sétimo ano lá, faziam um estágio no nosso mundo, eles usavam aquele portal para vim até aqui, ela explicou que no nosso planeta as crianças se passavam por adultos, e tinha como objetivo criar organizações e projetos de preservação da natureza, peraí...o pessoal que defende a preservação do nosso planeta são crianças vindas de Plastos? Viajei e pensei que nós somos vacilões mesmos, ninguém no nosso mundo se preocupa com preservação, é triste essa constatação. Clevinho me chamou e disse que já estava na hora de voltarmos, pensei em minha mãe e já imaginei que ela iria me deixar de castigo, eu não aguentaria mais uma semana sem internet, Nanda que era a única menina do grupo ficou lá batendo papo com Tana, elas se entenderam...peraí...como ela fala a nossa língua ? Ela explicou que em Plastos eles tem mil línguas oficiais e que os anúncios e placas se adequavam a língua de quem estava lá, no nosso caso o brasileiro, deixe de ser burro Lucas, nós falamos português, todos riram muito, até Tana riu...então ela nos ensinou como faríamos para voltar ao nosso mundo, ela nos levou por uma escada rolante enorme, passamos por um túnel todo iluminado, no fim do túnel havia uma pequena porta azul, nela tinha uma plaquinha escrita; “ entrada do estágio de preservação”; antes dela abrir a porta eu fiz a última pergunta: “Tana, por que vocês se preocupam em preservar nosso mundo?” Ela respondeu que todo oxigênio, água e natureza de plastos dependiam da preservação de pelo menos 30% da natureza de nosso planeta, ela me disse que estamos no limite, nossa preservação está em 31,5%, fiquei abismado com essa informação, era estranho saber que outro mundo dependiam tanto assim de nós, enfim, a porta se abriu, o feixe de luz se fez e fomos  de volta, as portas dos armário se abriram e caímos na terra do play, imediatamente peguei o celular para ver as horas e para a minha surpresa era 9 horas e 1 minuto, como assim? O tempo não passou...silêncio, levantamos e fomos para casa, todos calados, Morvan gritou, “ninguém tirou uma selfie para registrar o momento”, Nanda respondeu que tirou uma foto com Tana, todos foram olhar o celular...ficamos abismados; na foto só estava Nanda, ao lado dela um feixe de luz...fomos embora. Daquele dia em diante não tratamos mais sobre o assunto, também não contamos a ninguém, porém resolvemos criar um grupo de reciclagem...por fim lembro que uma certa vez estava na porta do shopping esperando minha mãe e tive a impressão de ver um menina que lembrava Tana olhando para mim, então fui na direção dela...um feixe de luz ...”menino pegue as compras no carrinho”...certo mãe! (Dicson Soares dos Prazeres- Contos públicos para escola pública- sonhos educacionais 2019)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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